Especialistas enumeram itens necessários à preparação do veículo para passeios fora da estrada
Off-road, em tradução literal, significa fora da estrada. Mas o que exatamente isso quer dizer? O trilheiro e engenheiro mecânico Fabio Niemezewski da Rosa faz a distinção de uma forma bem didática: tem-se a estrada de asfalto, as ruas da cidade; a estrada de chão, que é acidentada e exige mais do carro; e o "fora da estrada" literalmente, terrenos onde não há caminhos determinados, com outros obstáculos a serem superados.
"A primeira coisa antes de INVESTIR em equipar um carro é saber para o que se vai usá-lo", continua o proprietário da Rotas e Trilhas, empresa especializada em turismo de aventura. A preparação do veículo começa com a altura: para colocar pneus maiores, é preciso levantar o carro. Quanto? "Depende do que você pretende fazer", reforça. Se a ideia é ir para o sítio por uma estrada que costuma enlamear e onde o carro pode atolar, o tamanho é um; se a intenção é passar em terrenos com pedras, por exemplo, a altura será outra.
Existem duas formas para alterar a distância do chão. Uma é elevando a carroceria, e a outra é alterando a suspensão. Rosa diz que fazer o procedimento pela suspensão é mais indicado.

Calço levantou o Vitara em cerca de cinco centímetros
Nos veículos em que é possível mexer na suspensão, o preparo pode ser apenas a colocação de um calço (como na foto) ou pode ser necessário trocar outros mecanismos, dependendo do modelo em questão. No caso da Tracker e das Suzuki, existem kits off-road para a preparação. O custo, segundo Rosa, também depende do carro - o da Tracker, por exemplo, fica em torno de R$ 900.
Levantar o carro cumpre duas funções: primeiro, superar obstáculos; depois, permitir o uso de pneus maiores e mais preparados para os tipos de terreno de uma trilha.
Pneus
Os pneus usados para trilha podem ser do tipo all terrain (AT) ou mud terrain (MT), respectivamente para todo tipo de estrada (cidade e estrada de chão) e para terrenos embarrados. Rosa explica que se pode considerar o AT como "50% fora da estrada" e o MT como "100% fora da estrada". Para escolher, o especialista sugere que o motorista se pergunte: "na situação mais extrema pela qual pretendo passar, esse pneu dá conta?".

Pneu MT é indicado para quem anda fora da estrada
Para Clovis Chakal, dono da Chakal Aventuras 4x4 e repórter do programa Mundo 4x4 no Canal Rural, os pneus devem ser a principal preocupação de quem pretende sair do asfalto, seja para pegar "uma poeira" em estradas de barro ou quem pretende embarcar em uma aventura off-road.
Ele sugere que se procure um profissional na hora da escolha. Recomenda, ainda, que na troca das rodas seja colocado um sistema de bloqueio diferencial, para que todas girem na mesma velocidade e com o mesmo torque - no caso de modelos com tração nas quatro rodas.
Proteção e outros equipamentos
Para Rosa, o bloqueio diferencial estaria incluído no "segundo pacote" de preparações de um carro para fora da estrada. Como primeiras modificações, ele considera essencial, além de altura e pneus, a proteção de peito, câmbio, transferência e tanque do veículo a partir de chapas metálicas.

Chapa de proteção atua contra impactos de pedras
Também para a proteção, depois de feito o básico no carro, pode-se comprar um conjunto de estribos ou barras de proteção lateral. "No Brasil as pessoas interpretam como se fosse a mesma coisa, mas o estribo teria mais a função de ajudar a subir no carro, por isso costuma ser colocado mais fora. A barra de proteção fica mais junto ao veículo, e evita que pedras arranhem a lataria", explica Rosa.
Ele alerta que, para trilhas, a espessura das barras deve ser de pelo menos dois milímetros e meio, independente do diâmetro do cano. O custo fica na casa dos R$ 600.

Barras de proteção lateral ficam junto ao veículo
Outro item que ele inclui na lista secundária, mas que Chakal considera como essencial a um trilheiro é o guincho, usado principalmente para casos de atolamento - próprio ou de companheiros de off-road. Existem modelos de seis, oito, nove, dez e doze mil libras - unidade inglesa de medida de peso - cujos preços variam de R$ 2,5 mil a mais de R$ 10 mil. O Vitara de Rosa tem um guincho de nove mil libras, o que significa que ele consegue puxar cerca de quatro toneladas, e que custa em torno de R$ 4,5 mil. O guincho está no para-choque de ferro (cerca de R$ 1 mil), em um conjunto que pesa quase cem quilos.

Para-choque de ferro com guincho: quase 100kg
Chakal e Rosa ainda sugerem a instalação do snorkel, cano com abertura na parte de cima usado para captar ar para o motor quando o carro está em terrenos alagados ou na água. O preço fica em torno de R$ 900, na estimativa de Rosa.
E que outros itens poderiam ser usados na preparação? "O céu e o dinheiro são o limite", brinca o engenheiro, que cita o reforço dos eixos e o kit de redução mas afirma que existe uma infinidade de coisas que quem gosta e costuma fazer trilhas pode INVESTIR no carro.
De fábrica?
Alguns veículos - com denominação off-road ou adventure, por exemplo - podem parecer para aventura, sem necessariamente sê-lo. Rosa cita os modelos Palio, Crossfox, Montana e Parati e explica que são, na realidade, levemente modificados: mais altos, permitem andar melhor em estradas ruins, mas continuam tendo tração em apenas duas rodas, por isso não são adequados para fora da estrada. No caso das SUVs, também é a tração que conta mais: as 4x2 equivalem aos adventure, enquanto as 4x4 (tração nas quatro rodas) podem ser usadas em terrenos mais acidentados.
Quanto aos modelos que podem ser preparados para atividades off-road, Rosa afirma que qualquer carro pode ser modificado. "O que varia é a dificuldade e o custo", resume. Mas complementa que em alguns casos, por mais que seja possível levantar o carro e fazer outras alterações, pode não ser possível INSTALAR determinados itens. "Não se encontra pneu fora de estrada para Celta, por exemplo", diz.
Detran
Rosa lembra que as modificações feitas no carro devem ser vistoriadas pelo Inmetro, que emite um laudo para apresentação no Departamento Estadual de Trânsito (Detran). No órgão, é necessário fazer uma alteração do documento, incluindo os novos itens na descrição do veículo.

No Vitara, alargador de para-lamas vem de fábrica em apenas alguns modelos
O procedimento visa garantir que o carro rode com segurança e dentro das regulamentações. "A roda, por exemplo, deve estar alinhada com o carro, se ela for ficar para fora, é preciso colocar um alargador de para-lamas", cita o engenheiro. No caso da Tucson, o modelo vem com alargador de fábrica.
A alteração junto ao Detran é importante para evitar problemas na hora de transferir o veículo.
Se o dinheiro é o limite, Rosa avisa: é um esporte caro. "Quando você faz trilha, você está sujeito a imprevistos, então pode ser que quebre uma roda livre e você gaste R$ 500 ou quebre um eixo e você gaste R$ 4 mil, por exemplo", pontua. Ele explica que o valor depende de quantas trilhas e que tipo de trilhas o motorista faz, mas que ainda assim é interessante ter uma situação financeira estável que permita arcar com custos de manutenção. "Tem gente que se dispõe a eventualmente ficar sem o carro, quando algo quebra, até ter dinheiro para consertar, mas para outras pessoas um estrago acaba virando um estresse e diminuindo a diversão do passeio", exemplifica.
Foto: Déborah Salves - Fonte: www.revistapensacarros.com.br
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